sábado, 31 de janeiro de 2009

Técnica que reutiliza sangue do paciente chega a AL

MATÉRIA PUBLICADA EM: 06/11/2008

Nada de transfusões utilizando o sangue de doadores: agora já é possível submeter-se a uma cirurgia com a tranqüilidade de poder reaproveitar o próprio sangue perdido no momento da intervenção. Graças a uma técnica inovadora que acaba de chegar a Alagoas, na própria mesa cirúrgica o paciente é conectado a um recuperador intraoperatório sanguíneo, equipamento que capta, lava, filtra e reintroduz o sangue simultaneamente ao trabalho da equipe de cirurgiões.

"Além de garantir muito mais segurança ao paciente, a técnica é uma novidade importante para ajudar a aliviar a demanda pelos bancos de sangue", afirma o responsável pelo Banco de Sangue do Hospital do Açúcar, o hematologista e hemoterapeuta Wellington Moura Galvão, que acaba de implantar a técnica da recuperação intra-operatória de sangue no hospital.
Segundo dados do Ministério da Saúde, apenas 1,8% dos brasileiros fazem doações regulares de sangue. O número está longe do ideal que, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), é de que 3% a 5% da população adulta de cada país seja doadora. Além do pequeno número de doadores, que tornam escasso o estoque dos bancos de sangue de todo o país, os riscos de contaminação decorrente de receber sangue de outros faz com que um número cada vez maior de estudos já se preocupem em encontrar alternativas às transfusões.
A recuperação intra-operatória de sangue pode servir para a maioria dos procedimentos cirúrgicos, como as cirurgias vasculares, cardíacas, ortopédicas e até o transplante de órgãos, como o hepático. "A máquina só não é recomendada para cirurgias que apresentem riscos de re-contaminação, como as oncológicas, por exemplo", diz Wellington Galvão.
A utilização do sangue do próprio paciente anula o risco de infecção por doenças que poderiam ser contraídas nas transfusões, como a AIDS e as hepatites B e C, por exemplo. De acordo com Wellington, atualmente, apesar de todo o cuidado na análise das amostras sanguíneas dos doadores, o sangue ainda é um grande meio de transmissão de doenças.
Outro risco das transfusões é o sistema imunológico do paciente rejeitar o sangue doado – assim como ocorre nos transplantes de órgãos. Em alguns casos, pode ocorrer uma complicação clínica grave, a lesão pulmonar aguda relacionada à transfusão (Trali). Nos Estados Unidos e no Reino Unido, essa lesão foi a principal causa de morte associada à transfusão de sangue.
Por livrar o paciente de todos esses riscos, o recuperador intra-operatório sanguíneo é bem-vindo nos centros cirúrgicos – principalmente pelas Testemunhas de Jeová, que não aceitam receber sangue de outras pessoas. Para os seguidores dessa religião, a transfusão é proibida pela lei divina. "Muitos dos seus seguidores já cancelaram cirurgias importantes ao saberem que a transfusão de sangue era necessária", comenta Wellington.
A manicure Maura de Araújo, 47 anos, Testemunha de Jeová, sentiu na pele a falta de alternativas para a transfusão. "Quando precisei me operar, o médico disse que, se eu não concordasse com a transfusão de sangue, era possível que não saísse da sala de cirurgia. Tentou me convencer de todas as maneiras, mas, como minha religião não permite, relutei até o fim", desabafa Maura.
A manicure informou-se e descobriu a possibilidade de fazer a cirurgia mesmo sem a transfusão. "Depois de tomar remédio e comer alimentos com ferro para aumentar a quantidade de glóbulos vermelhos, voltei no primeiro médico e disse para marcar a cirurgia, mas que ele esquecesse a transfusão", diz Maura, que reconhece a importância de outras opções às transfusões.
"Se, na época, já houvesse essa técnica em Maceió, não precisaria ter me 'aperriado' tanto, pensando que talvez pudesse morrer. Ela demorou para chegar, mas, caso precise de outra cirurgia, vou tranqüila para o centro cirúrgico", finaliza Maura.
Além do recuperador intra-operatório sanguíneo, ainda há outras opções para evitar as tranfusões de sangue. Entre elas, as técnicas cirúrgicas minimamente invasivas (como, por exemplo, as videocirurgias), a administração de eritropoietina (hormônio que estimula a produção de glóbulos vermelhos) ou de "substitutos do sangue" (como expansores do sangue e transportadores de oxigênio) e o sangue autólogo (doado pelo próprio paciente antes da cirurgia).

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