quinta-feira, 19 de março de 2009

Versão 'brasileira' da toxoplasmose pode ser transmitida pelo sangue

toxoplamose Grupo observou parasita na corrente sanguínea de doentes crônicos.
Resultado mostra necessidade de cuidados envolvendo transfusões.

Reinaldo José Lopes

Do  G1, em São Paulo

Na maioria dos casos, o causador da toxoplasmose é um parasita relativamente "bonzinho" -- mas isso não é motivo para baixar a guarda diante dele, como acabam de mostrar pesquisadores brasileiros. Um estudo feito com gaúchos infectados pelo Toxoplasma gondii revelou que o microrganismo é capaz de circular pelo sangue dos pacientes mesmo após anos de infecção. Isso significa que é preciso um cuidado extra na hora de utilizar o sangue dessas pessoas em transfusões, por exemplo -- o receptor pode acabar ganhando a toxoplasmose como "brinde".

O estudo, que já está aceito para publicação numa revista científica internacional, foi coordenado pelo imunologista Luiz Vicente Rizzo, superintendente do Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Israelita Albert Einstein (SP). Num trabalho anterior, Rizzo e seus colegas já haviam demonstrado as características genéticas únicas do T. gondii presente em território nacional. "Ele é muito diferente das cepas de toxoplasma encontradas em outros lugares do mundo", contou o imunologista ao G1.

É possível que esse perfil genético diferenciado esteja por trás da maneira como o T. gondii "brasileiro" age. Assim como em outros lugares do mundo, a ação do microrganismo é relativamente "mansa". O mais comum é que pessoas que carregam a criatura em seu organismo não sofram sintomas, enquanto ele se aloja principalmente em regiões com tecido nervoso. A infecção é tão comum que entre 50% e 80% da população adulta do país carrega o parasita, dependendo da região.  

Fura-olho

O problema, ao menos no Brasil, é quando o toxoplasma vai parar nos neurônios da retina. Dependendo de como ele age, a pessoa afetada pode ficar com a visão embaçada, ter um inchaço no nervo óptico (que carrega as informações visuais captadas pela retina até o cérebro) e até desenvolver catarata. "Nos estados da Região Sul, isso é bastante comum", diz Rizzo. Dados da cidade gaúcha de Erechim, por exemplo, revelam que quase 18% dos adultos têm cicatrizes na retina provavelmente causadas pela toxoplasmose.

E foi justamente de Erechim que vieram os 22 pacientes que participaram do novo estudo. Rizzo e seus colegas recolheram amostras de sangue e usaram técnicas de análise de DNA, entre outros testes, para tentar detectar a presença do parasita. O que os pesquisadores viram é que, mesmo em pessoas com sistema imune (de defesa do organismo) em bom estado, o toxoplasma é capaz de circular pela corrente de sanguínea, em vez de ficar restrito ao tecido da retina.

O mais provável é que isso seja uma indicação de que ainda há uma lesão ativa no olho da pessoa. De qualquer maneira, o achado mostra a necessidade de avaliar a presença do microrganismo antes de uma transfusão de sangue.

Fonte