Grupo observou parasita na corrente sanguínea de doentes crônicos.
Resultado mostra necessidade de cuidados envolvendo transfusões.
Reinaldo José Lopes
Do G1, em São Paulo
Na maioria dos casos, o causador da toxoplasmose é um parasita relativamente "bonzinho" -- mas isso não é motivo para baixar a guarda diante dele, como acabam de mostrar pesquisadores brasileiros. Um estudo feito com gaúchos infectados pelo Toxoplasma gondii revelou que o microrganismo é capaz de circular pelo sangue dos pacientes mesmo após anos de infecção. Isso significa que é preciso um cuidado extra na hora de utilizar o sangue dessas pessoas em transfusões, por exemplo -- o receptor pode acabar ganhando a toxoplasmose como "brinde".
O estudo, que já está aceito para publicação numa revista científica internacional, foi coordenado pelo imunologista Luiz Vicente Rizzo, superintendente do Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Israelita Albert Einstein (SP). Num trabalho anterior, Rizzo e seus colegas já haviam demonstrado as características genéticas únicas do T. gondii presente em território nacional. "Ele é muito diferente das cepas de toxoplasma encontradas em outros lugares do mundo", contou o imunologista ao G1.
É possível que esse perfil genético diferenciado esteja por trás da maneira como o T. gondii "brasileiro" age. Assim como em outros lugares do mundo, a ação do microrganismo é relativamente "mansa". O mais comum é que pessoas que carregam a criatura em seu organismo não sofram sintomas, enquanto ele se aloja principalmente em regiões com tecido nervoso. A infecção é tão comum que entre 50% e 80% da população adulta do país carrega o parasita, dependendo da região.
Fura-olho
O problema, ao menos no Brasil, é quando o toxoplasma vai parar nos neurônios da retina. Dependendo de como ele age, a pessoa afetada pode ficar com a visão embaçada, ter um inchaço no nervo óptico (que carrega as informações visuais captadas pela retina até o cérebro) e até desenvolver catarata. "Nos estados da Região Sul, isso é bastante comum", diz Rizzo. Dados da cidade gaúcha de Erechim, por exemplo, revelam que quase 18% dos adultos têm cicatrizes na retina provavelmente causadas pela toxoplasmose.
E foi justamente de Erechim que vieram os 22 pacientes que participaram do novo estudo. Rizzo e seus colegas recolheram amostras de sangue e usaram técnicas de análise de DNA, entre outros testes, para tentar detectar a presença do parasita. O que os pesquisadores viram é que, mesmo em pessoas com sistema imune (de defesa do organismo) em bom estado, o toxoplasma é capaz de circular pela corrente de sanguínea, em vez de ficar restrito ao tecido da retina.
O mais provável é que isso seja uma indicação de que ainda há uma lesão ativa no olho da pessoa. De qualquer maneira, o achado mostra a necessidade de avaliar a presença do microrganismo antes de uma transfusão de sangue.
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